terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

“TROPEÇANDO NA FELICIDADE” POR NELSON FEITOSA JR.

"Elaine, uma das primeiras vencedoras dos “reality shows”, ficou rica e famosa da noite para o dia e logo descobriu que esse estado de coisas era extremamente frágil e toda aquela “felicidade” poderia desabar, como de fato aconteceu. Pelo lado oposto, um grande sofrimento como a perda de um ente querido ou grave acidente pode nos levar ao desespero, tirar nossa alegria por longos períodos ou pode a médio prazo representar uma reconstrução de vida. José, um psicólogo que teve um braço amputado num acidente, ao invés de entrar em depressão pelo resto da sua vida, atualmente joga no gol e dirige seu carro com uma só mão. Como ele mesmo diz: “A questão não é a tragédia, mas a forma como lidar com ela. Se a pessoa só ficar olhando para a sua perda, vai esquecer de investir tempo e energia para encontrar soluções e maneiras de aumentar sua qualidade de vida”. Quem debate a questão da felicidade ou do seu oposto, o estado de espírito infeliz, é o psicólogo e professor de Harvard, Daniel Gilbert, que em seu livro “Stumbling on Happiness” (Tropeçando na Felicidade), nos mostra como podemos encontrar “por acaso” o bom humor, manter um estado de espírito de felicidade e harmonia conosco mesmos e com o mundo em geral. Por outro lado, podemos também tropeçar na felicidade e cair, tornando-nos depressivos, infelizes, mal humorados, acordando todo dia de cara feia. Conta o autor que nossa memória e nossa imaginação nos pregam peças de mau gosto, falham na sua função primordial, que é de nos preparar para levar a vida da melhor maneira possível. Muitas vezes desejamos coisas que quando obtidas, não nos proporcionam tanta felicidade quanto imaginávamos. Pelo lado oposto, coisas que temíamos que acontecessem, acabaram não sendo tão ruins como pensávamos que fossem. E vamos vivendo nossas vidas descobrindo que cometemos erros e imaginamos como seríamos mais ou menos felizes em situações X ou Y. Frequentemente passamos por traumas ou tragédias que poderiam deixar-nos devastados e no entanto muitas vezes dizemos que estas situações foram as melhores coisas que nos aconteceram, porque mudaram nossas vidas para melhor. O homo sapiens aprendeu rapidinho a se adaptar às mais incríveis circunstâncias, por mais adversas que sejam. A evolução exige de nós a solução para a nossa sobrevivência. Imagine que há milhões de anos atrás havia apenas duas espécies de gente. Uma delas, quando algo de ruim acontecia, se deitava no chão e chorava. A outra dizia que não era tão ruim assim e que aquele fato poderia até se tornar uma coisa boa. Somos descendentes desta segunda espécie – e temos que ser, porque os que pertenciam à primeira espécie não viveram tempo suficiente para se reproduzirem. Os enganos que a mente pode nos trazer são de três tipos diferentes: os relacionados com a memória, os relacionados com o presente e os com o futuro. No primeiro caso, sabemos que nossas lembranças são a maioria das vezes deturpadas, com erros e invenções nelas inseridas. Às vezes, assistindo a um jogo chato, no último minuto vibramos com um gol espetacular; isto faz com que a lembrança desse jogo seja como um dos melhores que assistimos na vida, mas na verdade foram 89 minutos de jogo modorrento, ruim e apenas 1 minuto de excelente jogada. A memória adora lembrar-se de momentos extraordinários. Quanto ao presente, ele nos prende de maneira muito dura e é muito difícil escapar usando a imaginação. Indo ao supermercado quando estamos com muita fome, compramos coisas que mais tarde nos arrependemos; quando abrimos a geladeira no dia seguinte, nos perguntamos porque diabos compramos um produto do qual nem sequer gostamos; dessa forma é que os sentimentos (fome) do presente fazem com que seja muito difícil prever os sentimentos do futuro. As pessoas acreditam que um acontecimento bom tornará sua vida muito melhor, bem assim como um acontecimento ruim a fará muito pior. Por exemplo, achamos que se ganharmos na loteria seremos felizes para sempre. Mas pode acontecer o contrário: você pode pensar que se sua mulher o deixar, você ficará triste para sempre e nem sempre isso acontece. As pessoas, independentemente dos fatos, bons ou ruins, acabam voltando ao seu estado normal de felicidade ou infelicidade muito rapidamente. Em verdade, o cultivo do estado de espírito habitual é que define sua felicidade ou o seu contrário".
Nelson Feitosa Jr.
Médico Psicoterapeuta
E-mail:
nfeitosajr@gmail.com

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